Há exatamente um ano eu recebi a notícia de que minha mãe ia morrer. Na verdade, a notícia não foi bem assim, foi fechado o diagnóstico de uma doença grave já com complicações. Mas eu entendi que minha mãe ia morrer em breve. Era um pouco estranha aquela sensação porque minha mãe continuava vivinha ali do meu lado. O tempo foi passando e ela começou a não se sentir mais tão viva e, apesar do mal estar que esse assunto me causava antes disso tudo acontecer, eu sentia que era preciso manter a vida ali naquele lugar. Na minha carreira, eu estava mais viva do que nunca: trabalhando em quatro escolas, dois centros de desenvolvimento infantil, começando novos projetos, contando histórias todos os dias da semana e organizando uma colônia de férias linda. Minha filha e meu sobrinho, às vésperas do Natal, em pleno verão, também estavam mais vivos do que nunca. Mas, apesar disso tudo, parte de mim estava morrendo também. Por isso, desacelerei.
A Roda de Histórias, como falo em todas as oficinas, todos os cursos e todos os eventos que participo, exige a nossa presença. Contando histórias, a gente troca olhares e emoções.Continuei "trocando" por alguns meses enquanto dava conta. Depois, parei mesmo de trocar para deixar ali, pra ela, tudo o que ainda restava de mais vivo em mim. Essa foi a opção minha e da minha irmã (e do meu marido e do meu cunhado). Vivemos ali tudo o que podíamos viver, porque era tudo o que podíamos fazer. No dia em que faria a minha primeira apresentação, num evento que fui convidada por um amigo muito querido e admirado (o Cadu, dos Tapetes Contadores de Histórias), recebo a ligação bem cedinho da minha irmã, contando que minha mãe (e parte de mim) tinha morrido. Não fiz a apresentação, assim como não fiz outras que se seguiram. Voltei aos poucos a trocar com a vida lá fora e aos poucos a vida voltou a pulsar aqui dentro. Desde agosto, quando comecei a me sentir mais disposta e me reconhecer como essa nova contadora de histórias, meu trabalho deu um novo salto e encheu de alegria esse coração que ainda bate de mansinho... Ah, uma coisa que esqueci de falar foi que o amor também faz a Roda de Histórias "girar" e talvez seja por causa disso que ela nunca parou pra mim, porque o que mais tenho em mim é amor. É nele que acredito. É ele que completa tudo quando eu mais me sinto em pedacinhos. É ele minha maior herança. E é justamente o amor que me sobra e transborda na hora de contar histórias.
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Vou ali contar a história da Rapunzel e já volto
No início da noite eu recebo a ligação do meu marido: "já estamos indo para a natação e você onde está?" "eu tô andando aqui no meio do Largo dos Leões procurando uma rua." "Ué, mais você não tem que ir pro Largo do Machado?" Respondo eu, já rindo: "Sim, às sete. Ainda são seis horas e eu vim aqui rapidinho contar uma história". Depois de um sonoro "garotaaaa, tá maluca? Como você consegue inventar mais coisa para fazer nesse dia?" eu preciso confessar que não resisto a um pedido para contar uma historinha... Dessa vez foi da professora de balé da minha filha. Esse ano a apresentação de fim de ano tem como tema "contos de fadas" e hoje era uma aula especial de criação de cenário com alunas de outra turma. Ela pediu pra eu contar a história da Rapunzel e eu fui, claro. Não tinha a menor ideia de quem encontraria por lá, só sabia que eram meninas de 6 anos, que já conheciam a conto. No caminho, fiquei então pensando como deixar o clássico com a minha cara... e coloquei uma musiquinha de Luiz Gonzaga ao som do triângulo. Foi muito bacana e as mini bailarinas gostaram. Isso tudo pra dizer que pra mim, contar histórias é tornar um momento especial, é trocar emoção e sentimentos, é olhar no olho e conhecer a fundo cada ouvinte que participa mesmo que por pequenos minutos, é ver avó se emocionar, é ver filha no colo de mãe que canta junto, é ver professora sorrindo de amor. Como posso negar uma coisa dessas? Como? Me diz!
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Uma História de Balé

Ah, e quem quiser saber mais sobre a aula de balé mágica, tá aqui ó: http://baledavila.blogspot.com.br/
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Roda de Histórias no Parque Lage
quarta-feira, 10 de julho de 2013
Uma Comunicóloga na Sala de Aula
"Ah... então você trabalha com crianças... é professora?"
Essa é a pergunta que mais costumo responder hoje em dia. E realmente, é difícil entender o que uma comunicóloga faz dentro da sala de aula. Bem, eu sempre achei que a comunicação caminha junto com a educação, no que diz respeito ao trabalho com criança. Desde que comecei meus projetos em comunicação, trabalhando em rádio, eram as crianças o público que mais me atraía. Até que resolvi fazer o contrário, estudar educação para então favorecer a comunicação dos pequeninos... e são vários caminhos para isso: as histórias, a música, a arte, a experimentação.
Essa semana, lendo a matéria de capa da Revista Crescer, que fala sobre "birra", quase morri de emoção! Na lista que eles fizeram e denominaram como "Receita Antimanha" quase todas (se não todas indiretamente) as dicas para evitar a raiva das crianças têm a ver com a comunicação, o diálogo e a verbalização. É exatamente nisso que eu acredito. É isso que priorizo na minha relação com elas, que vai desde o primeiro olhar, até a despedida, passando pelo momento da história, da canção e da criação.
Há pouco tempo atrás, estava eu numa pracinha para uma Roda de História, observando as crianças que certamente iriam participar. Aproveito esse momento para escutar os nomes, para perceber o comportamento dos pais e a disposição corporal de cada um (meu trabalho começa bem antes da Roda! rs). Havia por ali um menino que fazia birras com os amigos, tinha pais aparentemente "desconfortáveis" com o local ou com o comportamento do menino e vestia um macacão desproporcional à sua fase de desenvolvimento (não disse idade!). Esse mesmo menino na hora da Roda de Histórias foi colocado (não percebi por quem) em um local muito diferente de todas as outras crianças que já tinham sido acomodadas no tecido. Ele ficou colado a mim e aos materiais e apesar das explicações (regras que explico no início do encontro) não deu a menor bola. Ele não dar a menor bola é o de menos, mas os pais também não deram, e isso pra mim é grave. Ele tirou aos berros todos os materiais da mala, quando as outras crianças se aproximavam ele chorava mais alto, gritando que era tudo dele ali. Só ficava um pouquinho mais calmo quando eu cantava ou narrava olhando pra ele. Como já estou acostumada e me preparo diariamente para esses encontros, sabia que uma hora ele seria tirado dali, não porque tirava a atenção dos amigos, mas porque era fuzilado pelos olhares reprovadores dos outros pais. Foi o que aconteceu. O menino, coitado, foi retirado e a Roda seguiu. O que deveria ser um caos, acabou se transformando num encontro em que mais recebi elogios e distribuí contatos. E eu não fiz nada além do meu papel... que era me colocar à disposição daqueles pequeninos. Agora, aquele menino, aqueles pais, todo aquele desconforto ficaram na minha cabeça, reforçando a ideia de que com um pouquinho de comunicação eficaz e entendimento tudo estaria resolvido...
Essa é a pergunta que mais costumo responder hoje em dia. E realmente, é difícil entender o que uma comunicóloga faz dentro da sala de aula. Bem, eu sempre achei que a comunicação caminha junto com a educação, no que diz respeito ao trabalho com criança. Desde que comecei meus projetos em comunicação, trabalhando em rádio, eram as crianças o público que mais me atraía. Até que resolvi fazer o contrário, estudar educação para então favorecer a comunicação dos pequeninos... e são vários caminhos para isso: as histórias, a música, a arte, a experimentação.
Essa semana, lendo a matéria de capa da Revista Crescer, que fala sobre "birra", quase morri de emoção! Na lista que eles fizeram e denominaram como "Receita Antimanha" quase todas (se não todas indiretamente) as dicas para evitar a raiva das crianças têm a ver com a comunicação, o diálogo e a verbalização. É exatamente nisso que eu acredito. É isso que priorizo na minha relação com elas, que vai desde o primeiro olhar, até a despedida, passando pelo momento da história, da canção e da criação.
Há pouco tempo atrás, estava eu numa pracinha para uma Roda de História, observando as crianças que certamente iriam participar. Aproveito esse momento para escutar os nomes, para perceber o comportamento dos pais e a disposição corporal de cada um (meu trabalho começa bem antes da Roda! rs). Havia por ali um menino que fazia birras com os amigos, tinha pais aparentemente "desconfortáveis" com o local ou com o comportamento do menino e vestia um macacão desproporcional à sua fase de desenvolvimento (não disse idade!). Esse mesmo menino na hora da Roda de Histórias foi colocado (não percebi por quem) em um local muito diferente de todas as outras crianças que já tinham sido acomodadas no tecido. Ele ficou colado a mim e aos materiais e apesar das explicações (regras que explico no início do encontro) não deu a menor bola. Ele não dar a menor bola é o de menos, mas os pais também não deram, e isso pra mim é grave. Ele tirou aos berros todos os materiais da mala, quando as outras crianças se aproximavam ele chorava mais alto, gritando que era tudo dele ali. Só ficava um pouquinho mais calmo quando eu cantava ou narrava olhando pra ele. Como já estou acostumada e me preparo diariamente para esses encontros, sabia que uma hora ele seria tirado dali, não porque tirava a atenção dos amigos, mas porque era fuzilado pelos olhares reprovadores dos outros pais. Foi o que aconteceu. O menino, coitado, foi retirado e a Roda seguiu. O que deveria ser um caos, acabou se transformando num encontro em que mais recebi elogios e distribuí contatos. E eu não fiz nada além do meu papel... que era me colocar à disposição daqueles pequeninos. Agora, aquele menino, aqueles pais, todo aquele desconforto ficaram na minha cabeça, reforçando a ideia de que com um pouquinho de comunicação eficaz e entendimento tudo estaria resolvido...
Assinar:
Postagens (Atom)