quinta-feira, 15 de maio de 2014

Roda de Histórias para bebês no CCBB

Há algumas semana atrás, eu e minha filha de seis anos fomos assistir a peça da Luana Piovanni no teatro do Jardim Botânico. O espetáculo era baseado no livro homônimo da Adriana Falcão, "Mania de Explicação", com um texto complexo e músicas de Raul Seixas. Era a história dos desejos e medos de uma menina às vésperas de completar 13 anos. Fiquei preocupada se era adequado à minha pequena, mas como ela ganhou o livro de aniversário e eu conhecia todas as músicas, achei que poderia ser um momento bom e ela curtiria... Porém, chego lá e vejo que a maioria absoluta das crianças na fila era menor de 3 anos. Ao meu lado sentou um bebê e atrás de mim, mais dois. As mães logo se conheceram, conversaram bastante sobre a educação bilingue dos pequenos e fizeram de tudo (até cantar parabéns) para que eles ficassem bem durante a peça mas, claro que não estavam dando a mínima... (e olha que o espetáculo é ma-ra-vi-lho-so!). Isso tudo para falar sobre o quanto fiquei pensando nisso depois. Será que as mães foram assistir a peça e não tinham com quem deixar o filho? Será que era pra ver a Luana Piovanni que é linda? Será que estavam no Jardim Botânico e resolveram entrar lá? Ou será que não acharam nenhum espetáculo para os pequeninos? De verdade, eu, que desde 2007 vivo um projeto pessoal de cultura para esse público específico, fiquei bem preocupada. Pra minha sorte, já que estava atormentada, é que alguns dias depois, fui convidada a participar de um projeto lindo do CCBB que levantava a questão. O título do evento era "A Crianças vai ao Museu". Com alguns debates e bastante atividade para os bem pequenos, o Centro Cultural Banco do Brasil está disposto a abrir as portas e oferecer entretenimento e cultura para crianças e bebês, além de discutir a questão histórica da infância, da acessibilidade, da participação da família no contato das crianças com a arte, da profissionalização da equipe de educação que vai recebê-los, etc. Minha participação é com uma Roda de Histórias para Bebês no sábado, às 10h30. Uma sessão de histórias cheia de elementos e músicas, pensada, estudada e criada especialmente pra eles, que merecem ser respeitados com cultura estruturada pra eles, num espaço acolhedor para recebê-los com carinho, que merecem ser ouvidos mesmo quando não conseguem dizer que querem ir embora porque aquilo ali não é pra eles, que merecem ter um passeio pra ser feliz e não porque as mães têm direito a frequentar esses espaços. Ó, já vou contando que a Roda é inédita e tá linda, cheia de materiais novinhos!

terça-feira, 13 de maio de 2014

A Função dos Contos de Fadas



Cheguei para contar histórias para uma menina que fazia aniversário na escola. Ela e a turma estavam se preparando, enquanto as auxiliares decoravam a festinha. Vi que o tema era "Valente", um longa de animação que conta a história de uma menina bem valente, claro, que luta, monta a cavalo, vai pela floresta, é cheia de atitude e defende sua família. Vi uma outra professora comentando sobre o tema "forte" e aproveitei pra perguntar se a aniversariante era mesmo assim, brava e valente, já sabendo da resposta... "Não, imagina!" respondeu a professora. "A Isabela é um doce, acho que é a mais tímida da sala". Bingo! Deveria ter respondido junto com ela. Eis a função dos contos de fadas: a identificação com o herói, com a superação, com o final feliz conquistado a ferro e fogo. É exatamente o que Isabela quer. Filha mais nova de policiais, Isabela é bem tranquila, meiga, doce. Mas agora, todo mundo já sabe seu desejo de ser Valente. E nem precisa ser, pois é através desse personagem que ela se encoraja e fortalece seus sentimentos. E passa. Daqui a pouco é um novo desejo e um novo conto de fadas pode aparecer como favorito.
É o caso do Frozen, para os mais velhos de 6 e 7 anos. Um conto de fadas sem lobo mau, sem bruxa ou pirata. Um conto de fadas que fala da cumplicidade de duas irmãs, da família, da ganância, do medo...
Sei que tem muita gente por aí que segue a linha do deixa disso, que contos de fadas servem mesmo para alienar. Para essas pessoas, que por algum motivo enrijeceram o coração e esqueceram de quanto a imaginação faz bem para o amadurecimento das crianças, para do desenvolvimento infantil e tantas outras coisas, sugiro uma leitura mais complexa como "A Psicanálise dos Contos de Fadas", do Bruno Bettelhein ou um pouco de Clarisse Pínkola Estés e Jung que falam bastante do simbólico por trás das narrativas. Esses autores podem ajudar um pouquinho a entender, por exemplo (um exemplo clássico), que a mocinha não fica esperando o príncipe encantado, ele é na verdade a parte masculina do seu próprio ser.
É de enlouquecer. E amar!