segunda-feira, 26 de março de 2012

Inclusão ou exclusão?

A educação ainda é um caminho novo pra mim e o ambiente escolar mais ainda. Desde que me aventurei por esse caminho, sigo a minha responsabilidade de estudar, pesquisar, experimentar e trocar com os mais experientes. Como estou nos colégios uma vez por semana, tento participar e ajudar como posso e como a minha limitação me permite na vida dos alunos. Mas, foi na Colônia de Férias que fiz esse ano que pude perceber de verdade, na prática, o que o assunto "inclusão" significa. Para mim ficou muito claro, inclusão não é aceitar o aluno com alguma questão específica no grupo. Inclusão é estar preparada para este aluno e fazer com que ele se sinta feliz e seguro nesse grupo. Isso significa, na maioria dos casos, ter um ambiente adequado, um profissional disponível, auxiliares bem dispostos e pacientes, e por aí vai. Caso algum desses itens não exista, ou não é possível aceitar a criança, ou é preciso sinalizar claramente à família que aquela criança necessita de um acompanhamento a mais... Pronto, problema na certa! Se a Globo fala que ter cidadania é fazer inclusão social, quem é você pra dizer que não pode aceitar? E que família está disposta a ouvir, de um educador, um relatório social desagradável do filho? Forçar a barra nesses casos é o pior caminho e o que mais acontece. Vou dar um exemplo simples e rápido. Estava eu dando aula para crianças do integral (de várias idades) no outro dia, aí chega a professora do maternal (que é uma ótima profissional) com dois pequeninos que nunca me viram antes. Deixou eles na sala e saiu. Os dois, óbvio, abriram o berreiro. Mas, ela não tinha opção, o resto da turma estava lá em cima esperando. Eu, sozinha, inclui um deles. O outro ficou desenhando. Outra historinha aconteceu hoje, num bate-papo após a aula com uma professora que conheci há pouco, mas para quem já tenho muitos elogios. Ela disse "pois é, tá claro que ele tem alguma questão. Fala muito pouco, não interage e acompanha muito pouco o grupo. Infelizmente, a mãe não quer ver. Está preocupada que ele não aprende as vogais. Mas o que são as vogais? Isso é o de menos..."
Sim, o tema está na moda. Virou até enredo de escola de samba este ano. Sim, o tema é sério, há vários artigos acadêmicos muito interessantes sobre ele. Não, nem todas as escolas estão preparadas para isso.

domingo, 4 de março de 2012

E se a criança quiser interromper a história?

Vai começar o treinamento de 2012 para os novos volutários do projeto Viva e Deixe Viver. Mais um ano que vou preparar as oficinas para os contadores de histórias em formação. Isso me deixa muito feliz. Primeiro, porque a cada ano recebemos mais interessados e segundo, que são interessados mesmo. A oficina é deliciosa, as pessoas perguntam bastante, tem sempre muitas dúvidas, trazem material para discussão... muito legal. Sei que mais uma vez terei que responder a pergunta que me fazem em todos os encontros: E se a criança quiser interromper a história?

Bom, eu vou responder aqui, hoje, contando um episódio que aconteceu comigo na sexta-feira passada. Eu tenho uma turma, na escola que estou com um projeto as sextas, que é bem participativa. Eles não querem só dar boa tarde antes da história, eles sempre querem contar alguma coisa. (Meu projeto existe para incentivar a comunicação e a expressão da garotada, e quando isso acontece desde o ínicio da aula, é bom demais). Mas, como não dá pra ficar só contando novidade, chega um momento que eles precisam se calar para a história do dia começar. Isso até acontece, mas normalmente sou interrompida porque algo na história desperta algum sentimento, alguma memória que eles precisam expor. Eu me preparo pra isso. Dessa vez, foi assim... estava eu contando a história de Tom Jobim, pegando gancho no aniversário da cidade. Quando comecei a falar do Jardim Botânico, onde Tom adorava ficar, uma menina de 4 ou 5 anos começou a narrar, com detalhes, a apreensão de animais silvestres pela polícia federal no sítio de Rogério Andrade. Ela falou da situação em que se encontravam os animais, como a polícia agiu, o aspecto físico do responsável e o que tinha acontecido com ele. Os outros alunos ficaram revoltados! Um sugeriu virar um super herói e prender o homem, o outro sugeriu matá-lo e uma outra sugeriu pegar dois chinelos grandes e pesados para bater nele, assim como os do pai dela... (?)

Bem, daí já dá pra concluir por que a minha intenção é criar uma roda de histórias em que as crianças realmente participem. No meu caso, é muito importante que eles tenham espaço para se expressar. Muitas vezes, a história (que você levou para contar) acaba ficando em segundo plano, mas por um bom motivo. Até porque outra história acaba aparecendo...