quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Contar histórias quando te falta um pedaço...

Há exatamente um ano eu recebi a notícia de que minha mãe ia morrer. Na verdade, a notícia não foi bem assim, foi fechado o diagnóstico de uma doença grave já com complicações. Mas eu entendi que minha mãe ia morrer em breve. Era um pouco estranha aquela sensação porque minha mãe continuava vivinha ali do meu lado. O tempo foi passando e ela começou a não se sentir mais tão viva e, apesar do mal estar que esse assunto me causava antes disso tudo acontecer, eu sentia que era preciso manter a vida ali naquele lugar. Na minha carreira, eu estava mais viva do que nunca: trabalhando em quatro escolas, dois centros de desenvolvimento infantil, começando novos projetos, contando histórias todos os dias da semana e organizando uma colônia de férias linda. Minha filha e meu sobrinho, às vésperas do Natal, em pleno verão, também estavam mais vivos do que nunca. Mas, apesar disso tudo, parte de mim estava morrendo também. Por isso, desacelerei.
A Roda de Histórias, como falo em todas as oficinas, todos os cursos e todos os eventos que participo, exige a nossa presença. Contando histórias, a gente troca olhares e emoções.Continuei "trocando" por alguns meses enquanto dava conta. Depois, parei mesmo de trocar para deixar ali, pra ela, tudo o que ainda restava de mais vivo em mim. Essa foi a opção minha e da minha irmã (e do meu marido e do meu cunhado). Vivemos ali tudo o que podíamos viver, porque era tudo o que podíamos fazer. No dia em que faria a minha primeira apresentação, num evento que fui convidada por um amigo muito querido e admirado (o Cadu, dos Tapetes Contadores de Histórias), recebo a ligação bem cedinho da minha irmã, contando que minha mãe (e parte de mim) tinha morrido. Não fiz a apresentação, assim como não fiz outras que se seguiram. Voltei aos poucos a trocar com a vida lá fora e aos poucos a vida voltou a pulsar aqui dentro. Desde agosto, quando comecei a me sentir mais disposta e me reconhecer como essa nova contadora de histórias, meu trabalho deu um novo salto e encheu de alegria esse coração que ainda bate de mansinho... Ah, uma coisa que esqueci de falar foi que o amor também faz a Roda de Histórias "girar" e talvez seja por causa disso que ela nunca parou pra mim, porque o que mais tenho em mim é amor. É nele que acredito. É ele que completa tudo quando eu mais me sinto em pedacinhos. É ele minha maior herança. E é justamente o amor que me sobra e transborda na hora de contar histórias.

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