terça-feira, 13 de maio de 2014

A Função dos Contos de Fadas



Cheguei para contar histórias para uma menina que fazia aniversário na escola. Ela e a turma estavam se preparando, enquanto as auxiliares decoravam a festinha. Vi que o tema era "Valente", um longa de animação que conta a história de uma menina bem valente, claro, que luta, monta a cavalo, vai pela floresta, é cheia de atitude e defende sua família. Vi uma outra professora comentando sobre o tema "forte" e aproveitei pra perguntar se a aniversariante era mesmo assim, brava e valente, já sabendo da resposta... "Não, imagina!" respondeu a professora. "A Isabela é um doce, acho que é a mais tímida da sala". Bingo! Deveria ter respondido junto com ela. Eis a função dos contos de fadas: a identificação com o herói, com a superação, com o final feliz conquistado a ferro e fogo. É exatamente o que Isabela quer. Filha mais nova de policiais, Isabela é bem tranquila, meiga, doce. Mas agora, todo mundo já sabe seu desejo de ser Valente. E nem precisa ser, pois é através desse personagem que ela se encoraja e fortalece seus sentimentos. E passa. Daqui a pouco é um novo desejo e um novo conto de fadas pode aparecer como favorito.
É o caso do Frozen, para os mais velhos de 6 e 7 anos. Um conto de fadas sem lobo mau, sem bruxa ou pirata. Um conto de fadas que fala da cumplicidade de duas irmãs, da família, da ganância, do medo...
Sei que tem muita gente por aí que segue a linha do deixa disso, que contos de fadas servem mesmo para alienar. Para essas pessoas, que por algum motivo enrijeceram o coração e esqueceram de quanto a imaginação faz bem para o amadurecimento das crianças, para do desenvolvimento infantil e tantas outras coisas, sugiro uma leitura mais complexa como "A Psicanálise dos Contos de Fadas", do Bruno Bettelhein ou um pouco de Clarisse Pínkola Estés e Jung que falam bastante do simbólico por trás das narrativas. Esses autores podem ajudar um pouquinho a entender, por exemplo (um exemplo clássico), que a mocinha não fica esperando o príncipe encantado, ele é na verdade a parte masculina do seu próprio ser.
É de enlouquecer. E amar! 

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