quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Se o zoológico é meu...

Toda aula com os mais velhos ("mais velhos" pra mim é a galera do jardim 3 e do primeiro ano) eu abro perguntando se eles tem alguma novidade pra me contar. Se a ideia é estimular a comunicação e a expressão no projeto, de nada adianta eu entrar cantando, começar a historia (sem deixar que interrompam), trabalhar outra linguagem para complementar a narrativa e dar tchau. As professoras, a coordenadora, etc. achariam a aula linda, mas eu saberia exatamente que não estaria funcionando. Por isso, na minha aula eles falam, reclamam, se entendem, se desentendem, ouvem histórias (claro), cantam... não há proibição e pedido de silêncio o tempo todo. Mas eu participo de tudo. Pois bem, isso tudo pra contar que na segunda passada, uma aluna muito falante, "independente" e "desinibida" começou a contar a sua novidade assim: "no MEU zoológico, eu vi um urso preso se molhando na água que caía da pedra." Os outros companheiros de turma imediatamente se revoltaram: "O zoológico não é seu! É de todo mundo!". Mas ela insistia: "ele tava preso, mas logo depois foi solto pra corrida dos bichos. Tem uma pista de corrida lá, gente!" Tentando convencer os amigos que o zoológico DELA era o máximo. Eles, mais revoltados ainda, gritavam: "O zoológico não é seu! É de todo muuuundo!"
Foi quando eu tive que mediar: "calma, gente, ela tá falando do zoológico dela". Todo mundo parou e prestou atenção... mas em seguida, o assunto já era outro. Segundo Bruno Bettelheim, no livro A Psicanálise dos Contos de Fadas, a segurança parcialmente imaginada, quando experimentada por tempo suficiente, permite à criança desenvolver aquele sentimento de confiança na vida de que ela necessita para crer em si mesma - uma confiança necessária para que aprenda a resolver os problemas da vida através de suas próprias e crescentes habilidades racionais. Eu acredito nisso. Acredito também, aliás, acredito fielmente, que os valores, aqueles que são interiorizados fisiologicamente na educação infantil, são normas revestidas de sentimento. Portanto, imaginar e expor suas ideias, nessa idade, é sentir, é experimentar. Eu apóio!

Nenhum comentário:

Postar um comentário